Empresa reforma moradias insalubres nas periferias
Transformar habitações precárias a um baixo custo motiva trabalho da Moradigna
A questão da moradia no Brasil é um grave problema social. Tanto na ausência de casa para todos quanto nas condições, por vezes precárias, de muitas das habitações populares. O ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis versa sobre a necessidade de se construir locais inclusivos, seguros e com acesso aos serviços básicos. E isso abrange também a questão do saneamento básico, tão mal tratado como o esgoto produzido pelos brasileiros, que corre a céu aberto em todo o país.
Dados da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2020, revelam que 45,2 milhões brasileiros residem em 14,2 milhões de domicílios com pelo menos uma de cinco inadequações habitacionais. Entre os problemas temos: ausência de banheiro de uso exclusivo, paredes externas com materiais não duráveis, grande quantidade de moradores em um espaço exíguo, alto gasto com aluguel e falta de documentação da propriedade. Na proporção de raça, a desigualdade se aprofunda: 13,5 milhões dos afetados são brancos e 31,3 milhões, quase o triplo, são pretos ou pardos.
Focando nos dois primeiros itens, muitas vezes o banheiro (ou outo cômodo da casa) em más condições proporciona infiltrações e mofo, isso quando há banheiro. Esses transtornos acabam causando problemas de saúde nos moradores daquela habitação. Tais situações apontam para o quão urgente é tratar do tema e garantir uma casa verdadeiramente digna para todos.
Uma iniciativa que visa contornar esse problema é o empreendimento social Moradigna, que existe desde 2015 com o objetivo de realizar reformas residenciais para comunidades de baixa renda que vivem em condições insalubres A ideia é, como o nome do projeto diz, dar mais dignidade para as moradias de quem não tem dinheiro para grandes intervenções.
Vivência impactou na criação do projeto
O conceito partiu do engenheiro Matheus Cardoso, que nasceu e morou no Jardim Pantanal, extremo leste de São Paulo, por 20 anos. O local é conhecido por enchentes recorrentes, devido a sua proximidade com o Rio Tietê que, quando transborda, sua comporta é aberta, levando aquela água não tratada adequadamente para o bairro. Isso gera um excesso de mofo e de infiltrações nas casas, trazendo diversos problemas de saúde à população.
Com essa inquietação dentro de si, o fundador do Moradigna participou de diversos projetos sociais no bairro relacionados à habitação. Porém, sua inquietação permanecia por não ver uma mudança mais profunda dessa realidade. Durante o curso de engenharia, ele conheceu a modalidade de empreendimento social que visa o lucro, mas também tem um viés voltado às Organizações não-governamentais (Ongs), o que o levou a criar a Moradigna, após muita luta e a formatação de parcerias. As reformas objetivam resolver questões de estrutura da casa, tais como: ventilação, revestimento, sistema hidráulico e elétrico.
A empresa vende pacotes de reforma com preço fechado, incluindo projeto, mão de obra e material. E para facilitar o pagamento, a própria Moradigna faz o orçamento do financiamento com empresas de crédito parceiras e apresenta as melhores condições para o cliente, que escolhe a melhor opção para si. A iniciativa oferece ainda um baixo custo de material, obtido “por atacado” com grandes conglomerados parceiros. Após a contratação dos profissionais, feita por demanda, e a aquisição do material, a “Reforma Express” ocorre de cinco a sete dias, dando uma nova vida ao cômodo precário.
Mais de 3.500 reformas foram realizadas até então, com a grande maioria dos clientes da Região Metropolitana de São Paulo e alguns da periferia do Rio de Janeiro. A ambição é grande e a Moradigna quer transformar a vida de mais de 40 milhões de pessoas. Pela iniciativa, Mateus Cardoso recebeu em 2023 o prêmio de Engenheiro do Ano pela Associação VDI Brasil, entregue durante o 15º Dia da Engenharia Brasil-Alemanha.